sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Tragam suas próprias bombas

Eu tenho vinte anos e não servi ao exército. Ainda bem...

Para mim, a pior parte não foi a espera para me alistar, não foi a espera para me apresentar, muito menos a espera para pegar minha reservista. Para mim, a pior parte de todo este processo foi o juramento a bandeira...

“Em caso de convocação deve apresentar-se imediatamente”, é isso que está escrito em minha carteirinha de reservista. Eu ainda estou preso ao exército.

Eu me pergunto o porquê de um alistamento. O período da ditadura já passou, mas mesmo assim, ele deixou suas sequelas no país. Eu jurei fidelidade de coração amargurado a uma nação que trata seus filhos com desdém em prol de outros. Ó pátria amada, por que não ama teus filhos?

As pessoas responsáveis pela gestão do país são verdadeiros gabirus. A partir de uma péssima educação, propagandas massivas que ludibriam as pessoas e políticas públicas de mesadas como as diversas “bolsas” que encontramos por aí, essas ratazanas conseguiram acomodar a população e deixa-los acostumados com ócio. Foi a esta nação que eu jurei lealdade, mas qual lealdade? Lealdade a uma bandeira, um simples pedaço de pano. Lealdade às forças armadas.

Todo este processo foi minando a consciência crítica das pessoas e com o tempo elas param de se questionar. Sendo assim, aqui eu trago um questionamento: para que servir ao exército?

Um homem é chamado para ir à guerra. Ele sabe que poderá morrer, deixar mulher, filhos, familiares, amigos. Ele sabe que poderá matar pessoas, que assim como ele, possuem suas famílias, familiares e amigos. Mas então, por que ele vai à guerra?

Nem eu sei o porquê de um ser humano ir à guerra, mas eu tenho uma ideia do que o leva a ir para uma guerra. Os conflitos são gerados por interesses, interesses de uma minoria, interesses de riqueza, enquanto o que sobra para nós são os títulos de bravuras. Já perceberam que os títulos de heróis são quase todos dados às pessoas que morreram realizando suas tarefas arriscadas.

Um homem vai à guerra e não sabe quando volta, ou se mesmo a de voltar. Ele sabe que se não servir as forças armadas, quando estas lhe chamarem, será punido severamente pelo Estado.

“Você tem que dar a vida pelo seu país, ama-lo a qualquer custo.” Tenho medo dessas frases. Na verdade, a vida é dada à interesses singulares. É tudo uma questão de convencer as pessoas a lutarem por causas “nobres”. Já vimos a religião ser utilizada para esses fins, quem não se lembra da Guerra Santa? Quem não se lembra da Guerra Iraque? Do mesmo modo, já vimos a vingança junto aos interesses econômicos, de maneira sútil, serem utilizadas para gerar a guerra. Bush e Obama que bem sabem disto.

“Toda espécie de feras, aves e répteis se doma e tem sido domada pelo Gênero humano; a língua porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero.” – Tiago 3:7, 8.

As palavras são moldadas para passar a ideia de que existe um espírito de coletividade, de que o sangue derramado irá limpar a dignidade do país e das pessoas ou irá aumentar a soberania dos mesmos.

Que tipo de soberania é esta que é criada pelo caos? Que tipo de soberania é esta criada pelo fantasma da morte? Não critico a guerra em si, afinal, as vezes é necessário travar batalhas para manter a paz e assim faço das palavras de Sun Tzu as minhas quando este diz: "Na paz, preparar-se para a guerra; na guerra, preparar-se para a paz”.

O que crítico são as causas vazias de sentido que levam uma pessoa a ir a guerra. Imaginem se Hitler tivesse vencido a guerra. Entretanto, os Direitos Humanos, como aponta Immanuel Wallerstein, se tornaram a principal justificativa das invasões e dos conflitos. Ele mostra que foi deixado de lado um princípio revelado por Las Casas: o princípio do mal menor. Se for necessário adentrar em um país e se utilizar da força como um meio, que provoque um menor mal para as pessoas daquela localidade se comparado ao tirano que ali governa.

Ideologias existem para corromper os verdadeiros motivos do conflito criado, pois: "A diferença entre um anticristo genocida e um herói de guerra é apenas e tão somente quem venceu a guerra” (Marcelo Eiras).

Eu me pergunto, por quanto tempo ainda verei pessoas morrerem por riquezas pífias? Por quanto tempo vou ver as riquezas de uns poucos crescendo com a morte descontrolada de outros muitos? Por quanto tempo vou ver as pessoas terem inimigos?

“Porventura não destruímos nossos inimigos quando os tornamos nossos amigos?” (Abraham Lincoln).

Eu tenho medo de ir à guerra...

Por que os presidentes não lutam a guerra?
Por que eles sempre mandam os pobres?
(B.Y.O.B. – System Of a Down)

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