quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Maldição...

O Sol surge ao horizonte com um céu azul e limpo. Era uma bela manhã. Fazia calor, muito calor, o quarto se encontrava com a porta e as janelas fechadas. Levantou-se em um impulso, seu corpo se encontrava em rios de suor e o colchão estava úmido.

- Mas que merda...

Levantou-se e foi até o banheiro. Abriu a torneira e com as mãos juntas aparou água e molhou o rosto, fechou a torneira e não se deu ao trabalho de enxugar a face. Foi até a cozinha, abriu uma das portas do armário e pegou uma garrafa térmica, que ainda possuía café da noite anterior, despejou o líquido em uma xicara azul, adicionou leite e achocolatado, gostava daquela mistura mais do que doce. Ingeriu o líquido, pôs a xícara na pia e voltou ao banheiro.

Despiu-se, se posicionou debaixo do chuveiro e sem cerimônias deixou que a água gélida da noite caísse sobre o teu corpo. Com a água escorrendo, refletia incessantemente sobre o que teria que fazer no decorrer do dia. Depois de alguns minutos de agua corrente, completou o banho, fechou o registro e, sem ao menos se enxugar, voltou ao seu quarto. Vestiu-se, pôs a carteira e as chaves de casa nos bolsos e andou em direção à saída.

Passando pela sala viu algumas contas em cima da mesa, pegou-as e saiu de sua residência. Andou cerca de cinco minutos até alcançar o ponto de ônibus e, neste curto período de tempo, já se encontrava suando e de corpo quente.

- Maldito Sol...

    Tomou o ônibus em direção ao seu trabalho, pagou ao cobrador, passou pela catraca, sentou-se em uma das primeiras cadeiras. Sua viagem durou cerca de cinquenta minutos. A cada ponto que passava, o ônibus enchia mais e mais. O veículo fazia muito barulho, sua lataria parecia que estava para se desmontar a qualquer momento e o motorista não fazia a menor questão de enfiar o maldito pé no acelerador. Parecia que tinha se enfiado em uma grande lata de sardinha com rodas que se deslocava ao estilo montanha-russa.

-Maldito ônibus...

Desceu daquele veículo quase surreal e andou por cerca de dez minutos até o seu local de trabalho. Era uma casa de dois andares em que funcionava alguma coisa que parecia ser importante. O pobre diabo passava o dia inteiro em frente a um computador fazendo e repassando ofícios, nem ele mesmo sabia direito qual a sua função naquele lugar.

    O ambiente possuía sete pessoas incluindo ele mesmo, onde dos sete, quatro eram mulheres. Tirando sua chefa, as demais eram fofoqueiras e se achavam perfeitas, os homens eram verdadeiros babacas que se achavam os “caçadores de dondocas”.

- Malditas pessoas...

    Sua superiora era uma mulher provocante, rígida e dedicada. Gostava de usar terninhos com saias provocantes. Ele nunca gostou de roupas curtas, mas também não iria deixar de aproveitar a oportunidade de olhar as grossas coxas e o farto busto da patroa.

- Maldito tesão...

    Ele tinha um relacionamento sério com uma boa moça de mente e personalidade maravilhosas. Em seu relacionamento não lhe faltara nada. Possuía amor, carinho, sexo e delírios, mas, por alguma razão, alimentava uma paixão, ainda controlável, pela sua chefona.

    Em meio ao seu trabalho ele foi convocado a comparecer a sala de sua chefia. Tremulo e desconfiado ele se desloca até a sala no andar superior da casa. Isso nunca havia ocorrido. Ele trabalhava sem dar um “piu”, não conversava com ninguém e era empenhado em seus afazeres, então, por que ser chamado?

    Parou defronte a porta, bateu três vezes, pediu licença e entrou na sala. Ela o mirou nos olhos e de ordenou de maneira direta:

- Sente-se.

O pobre diabo tremia, dependia daquele emprego e não sabia por que havia sido chamado...

- Tá bom

- Sabe por que eu lhe chamei?

- Não senhora.

- Eu gostaria de ver o quão resistente você é.

    De maneira fria e sem hesitações, a mulher levantou-se e começou a tirar o blazer, desabotoar a camisa e tirar a saia, revelando um corpo escultural e uma roupa íntima provocante. Ele não queria, mas as palavras saíram de sua boca.

- Maldita tentação...

    Ela foi até ele e esfregou os seios em seu rosto. Eram fartos, redondos e macios. Ele recuou a cabeça no intuito de respirar e foi surpreendido com a mulher sentando violentamente em seu colo e o beijando de maneira selvagem, arrancando-lhe todo o folego.

    “Mas que merda esta acontecendo aqui, assim, tão de repente!”, pensava sem parar. Agoniado por não poder respirar, empurrou o rosto da mulher para trás e, com os olhos fechados, respirou fundo. Com o folego renovado, abriu os olhos e a encarou. Tomou um grande susto ao ver que os olhos dela estavam completamente negros, como uma noite sem lua e estrelas. Surpreso e assustado manteve-se imóvel.

- O que foi querido? Não era você que me desejava e não deixava de olhar para as minhas pernas e para os meus seios, para minha bunda e para o meu rosto? Por que está tão chocado?

    Ela avançou novamente contra a boca do não tão feliz infeliz. A língua da já não mais parecia normal, era grande e serpenteante, tão grande que adentrou garganta abaixo do rapaz, sufocando-o. Ele fechou os olhos e a empurrou para longe. Sentiu-a sair de seu colo, mas não escutou o tombo dela contra chão ou qualquer outra coisa. Abriu os olhos e já estava em sua casa, de pé, defronte a sua parceira, que, chorosa, mirava-o nos olhos.

    Não sabia o que fazer, não sabia o que falar, uma agonia avassaladora crescia em seu peito e o emudecia. De maneira inexplicável, tudo ao seu redor começou a queimar. A fumaça o sufocava e sua amada se desfez como poeira ao vento. Tudo estava destruído e o calor era dilacerante. Ficou tonto, caiu de joelhos, olhou tudo ao se redor, percebeu a visão ficando turva e então, desmaiou.

    Levantou-se em um impulso, seu corpo se encontrava em rios de suor e o colchão estava úmido. O Sol surgia ao horizonte com um céu azul e limpo. Era uma bela manhã. Fazia calor, muito calor, o quarto se encontrava com a porta e as janelas fechadas.

- Maldito desejo...

    Olhou para o lado e viu sua parceira, que ainda adormecia.

- Tenho que pagar as contas...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ser Cínico

Gostaria de antemão dizer que não sou perito no assunto do cinismo enquanto linha filosófica, mas mesmo assim, me atrevo a falar algo sobre.

Significado de Cínico
adj. e s.m. Diz-se de filósofos antigos (como Diógenes) que professavam uma moral ascética e um desdém absoluto das conveniências sociais.
Impudente, inconveniente, descarado: linguagem cínica. (Fonte: http://www.dicio.com.br/cinico/)

O cinismo se perdeu enquanto senso dando espaço a uma noção pejorativa.

Ser cínico não é uma pena, mas sim, a meu ver, é uma necessidade.

Uma das frases que mais me marcou foi a dito por Crates: “você segue as leis por convenção ou por natureza”.

Ser cínico é ir de encontro aos costumes firmados por nossa sociedade.

Ora, vejamos um exemplo, roubar é um crime, e se um indivíduo o faz por uma necessidade isto não o fará menos errado, ou muito menos, esta mesma necessidade não servirá de justificativa aos seus atos. Em contrapartida, nosso país possui uma grande quantidade de ladrões vestidos de ternos e gravatas que “carinhosamente” nós os alcunhamos de políticos. Estes últimos, por sua vez, roubam de toda uma nação, e nem por isso nos damos ao trabalho de irmos às ruas protestarmos contra tal ação.

Crime é crime, e em ambos os casos vemos algo que é considerado errado pela sociedade. Mas pergunto, por que uns nós prendemos e torturamos enquanto outros continuam impunes e gozando com o dinheiro dos trabalhadores?

As leis são uma grande piada, de muito mau gosto penso eu. Elas são feitas de cima para baixo. Acostumamo-nos a ver poderosos continuando impunes e assentamos esta ideia em nossas cabeças. Convencionamos socialmente de que nada poderá parar um político corrupto, daí nasce o nosso ócio, nossa falta de vontade de lutar. Devido a isto, descarregamos nossas frustações e certezas aos menos poderosos que não podem se defender ou protestar. Descarregamos a frustração do roubo em cima do simplório ladrão de bolsas, enquanto trabalhamos seis meses somente para pagar impostos que são desviados para o bolso de pessoas que nem ouso comparar aos ratos ou vermes, porque estes ainda prestam o serviço ao qual, aos mesmos, foram entregues.

Logo, até onde roubar é errado, ou melhor, até onde roubar é um ato impune?

Quem convencionou o certo e o errado? Quem foi que disse que o certo é universal?

As certezas são subjetivas, assim como os erros. É lógico que existem certezas que são comuns, não a todos, mas a uma grande maioria. Não estou aqui para falar dessas certezas, mas sim para estressar a ideia do que seria o certo.

Suas certezas são cabíveis a você, e somente a você. Suas certezas são suas responsabilidades. Mas será que suas certezas são cabíveis a mim? Ou será que as minhas certezas são cabíveis a você?

As certezas são cabíveis a partir da aceitação. A todo o momento, imperceptível à nossa razão, porque somos “ocupados de mais” para refletirmos sobre. Nós comumente impomos nossas razões para os outros sem ao menos pensarmos se ela será bem vista e/ou aceita pelo próximo.

Onde está a tolerância, ou o respeito às diferenças?

Para quem são os direitos? Para quem são os deveres? Para quem são os privilégios?

O direito é aquilo que de nós é usurpado. O dever é o que justifica a nossa punição. O privilégio é a capacidade de burlar e/ou quebrar as regras que para toda uma sociedade foi imposta e não discutida.

Logo, o que nós, meros mortais, temos são os direitos e os deveres. Aos poderosos, de qualquer casta, sobram os privilégios.

Claro que isso é um pensamento meu, de minha responsabilidade, e com ele não te imponho nada, mas espero que te faças refletir, afinal, “você segue as leis por convenção ou por natureza?”.

"Não me tires o que não me podes dar!" – Diógenes de Sínope à Alexandre, o Grande.