Eu não chorei quando eles morreram...
Para ser realista, não vejo motivos para chorar quando uma pessoa morre. Minhas lágrimas não irão trazer este alguém de volta a vida.
Você nasce e com o tempo aprende a engatinhar, a andar, a correr, a falar e a pensar. Pensar é o ato inerente a todo ser humano e a todo ato humano. Entretanto, sabemos que o fim último de tudo será a morte, este espectro negro que ERRONEAMENTE lhe atribuímos à imagem de um algoz.
As pessoas choram, e quando o fazem, vem em mim um sentimento de repulsa e de dúvida... Elas choram por que estão tristes ou por que querem mostrar que se importavam?
A morte tem um papel importante na vida. Parece contraditório porque realmente é. Esta ideia nos circunda a todo o momento: a ideia dos opostos. Eu reconheço a luz porque já vi a escuridão, eu reconheço a mentira porque já escutei a verdade, eu reconheço a alegria porque já senti tristeza, logo, eu reconheço a vida porque eu já vi a morte.
Uma vez foi me dito que “a morte esta a todo tempo rindo de você com apenas um braço de distância”, e eu nunca duvidei disso. A todo o momento falamos frases cotidianas como “amanhã não sei nem se vou estar vivo”, mas quando nos deparamos com a morte abraçada a alguma pessoa querida nos desfazemos em prantos. Por quê?
Vou, aqui, explicar o meu entender sobre a morte.
A morte ensina o que para mim é, o sentido da vida, e o sentido da vida é viver. Parece simples, não? Quem me dera se fosse.
Os filósofos antigos tinham esta preocupação: o que fazer da vida para ter uma morte agradável? Eu me simpatizo com esta preocupação. O sentido da vida é viver porque viver é o que dá significado a morte, afinal, elas são opostas.
Em um dia, um ser humano aprende tanto, quem dirá em toda uma vida. A vida é cheia de experiências, cheia de desafios e prazeres, mas ela é assim para que possamos dar a ela o verdadeiro valor. E que valor seria esse? O valor das experiências, pois a idade envelhece a carne, mas fortalece a alma, e com isso, podemos nos perguntar até onde foi proveitosa nossas vidas.
Viver é nada mais nada menos que aproveitar as experiências que a nós são dadas. Saber que todo nosso ato depende de nossa noção sobre a vida e, a partir daí, vem a sabedoria. Erguer a cabeça e saber que toda ação gera uma reação de mesma intensidade e em sentido oposto.
Passo horas refletindo sobre meus atos, sobre o meu modo de pensar e de agir, passo horas analisando os fatos e a consequência de minhas ações quando incididas nesses fatos. Faço isso porque quero agir sabiamente, quero ter a certeza que se fiz algo, foi com reflexão. De tanto refletir, consegui separar, não perfeitamente, mas de certa forma, boa, a água do vinho. Não confundo amor com desejo, não confundo a tristeza com as lágrimas, não confundo sentimentos com instintos, não confundo ciúmes com proteção e nem confundo paixão com amor, mas como nada é perfeito, eu as vezes me passo e me confundo.
E é para isso que existe a vida, para aprendermos com os erros, para podermos, com nossas experiências e vivências por menores que sejam, conversar, aconselhar e sermos aconselhados, porque quando a morte chegar e minha vida passar diante dos meus olhos, vou poder rever todos os meu erros, todos os meus acertos, todas as pessoas que eu ajudei, prejudiquei, que me ajudaram e que me prejudicaram, todos os passos que eu dei e toda as cruzes que carreguei, mas quando eu der o último suspiro, saber que em algum momento da minha vasta vida eu devo ter feito algo de bom.
Para destruir gastasse apenas uma tarde, para construir, leva-se uma vida inteira. A partida é sempre mais longa do que a chegada e o peso milhões de vezes maior, mas a morte tem esse caráter. Ela possui esse caráter porque e necessário que tudo tenha um fim, não um ponto final, mas sim um ponto continuando. Esse ponto continua nas outras pessoas, nas palavras que a estas foram ditas e que a estas cabem agora a tarefa de refletir e agir sabiamente.
Quando eles morreram, na época eu fiquei triste, porque eles haviam partido, mas a alegria foi maior quando, toda vez que eu se lembrava deles, eu sabia que eles tinham vivido e aprendido com a vida.
Mas aos que morreram jovens de mais, deixo o peso ao infortúnio, pois nada é perfeito, nem mesmo a vida...
Dedico à Dona Cecília, Velho Julho, Seu Antônio, Grande Ivanzinho.
A morte nunca será o fim, mas sim o começo. A morte nunca será o Algoz, mas sim, a velha senhora carismática e bondosa que dá descanso aos que merecem.
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