quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O copo


Deixei o copo cair e ele não quebrou. Levantei a sobrancelha esquerda, como sempre faço quando algo estranho passa por minha mente, e seguidamente apanhei o copo do chão. Era um copo de vidro, desses comuns que nós encontramos nesses mercadinhos e lojinhas para o lar. Segurei a peça de vidro por uns instantes, girei de um lado ao outro, fiquei olhando admirado. Respirei fundo e folguei a mão. Senti o copo deslizar por meus dedos. O objeto passou depressa e logo encontrou o chão, espatifando-se em vários pedaços.

Sabe-se lá o que passava em minha cabeça, mas, sem muito pensar, sentei-me ao chão defronte ao copo quebrado. Permaneci parado, olhando os estilhaços que refletiam a luz que os atingira. Senti a alma condensada, era como se o tempo tivesse parado, como se o tudo e o nada, simultaneamente, acontecessem. Havia alcançado a serenidade. Parece loucura, ou uma completa perda de tempo, mas coisas assim nos fazem refletir bastante às vezes. Se mantivermos nossos olhos atentos, coisas simples tornam-se grandiosas.

Parado, olhando os fragmentos de vidro, comecei a pensar no cotidiano, afinal, quantas vezes algo aconteceu por um deslize, ou por um infortúnio e por sorte não nos atingiu, de alguma forma, e simplesmente desconsideramos o fato e seguimos com nossas vidas? O copo caiu porque minha mão esbarrou nele sem querer quando virei o meu corpo e eu poderia, simplesmente, pega-lo e coloca-lo em um lugar mais seguro, ou menos “perigoso” dependendo do ponto de vista. Entretanto, eu deixei que ele caísse novamente, e de propósito, e dessa vez ele se espatifou.

Quantas vezes temos uma segunda chance para revermos nossos atos e, propositalmente, deixamos esta segunda chance correr feito água entre os dedos. O copo quebrou, eu sei disso, do mesmo jeito que eu também sei que, antes, podia tê-lo pego e guardado, mas não, eu preferi derrubá-lo e ver se ele se estilhaçaria. Isso me fez refleti.

Quando nossas ações são pensadas, as consequências são maiores, para a melhor ou pior das hipóteses. Nem sempre coisas frágeis têm segunda chance e nem sempre nós vemos coisas simples como avisos... Malditos avisos...

Ainda estou com sede...


“Que eu, assim como Deus, não jogo dados e não creio em coincidências”
- V

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